quarta-feira, 11 de março de 2009

Pragmatica

9. Morris, Carnap e a Semiotica
Charles Morris, no livro Fundamentos da Teoria dos Signos, de 1938, dá uma das certidões de nascimento da Semiótica; ela seria um passo importante para um programa de unificação da ciência. Foi a partir dos escritos de Morris que se fixou o vocabulário que designa os principais ramos da semiótica, a sintática, a semântica e a pragmática. A contribuição de Morris, no entanto, logo foi eclipsada pelos estudos de Carnap, que prometiam levar adiante o sonho de unificação da ciência que ambos partilhavam. São de autoria de Carnap as primeiras definições e as investigações mais detalhadas desses ramos da semiótica. Carnap assim as apresenta: “Se em uma investigação é feita referência explícita ao locutor, ou, em termos mais gerais, aos utilizadores da língua, então tal investigação pertence ao campo da pragmática (se neste caso é feita referência também aos significados ou não, não faz nenhuma diferença para esta classificação). Se fazemos abstração do utilizador da língua e analisamos somente as expressões e seus significados, estamos no campo da semântica. E se, finalmente, fazemos abstração também dos significados e analisamos apenas as relações entre as expressões, estamos no campo da sintaxe (lógica).”A pragmática, segundo Carnap, consiste no estudo das expressões lingüísticas em relação às intenções do falante, na habilidade lingüística, crenças, audiência e contextos de uso.Se o falante e o ouvinte são eliminados da cena lingüística, o que permanece é a linguagem e a relação de suas partes à objetos, eventos, aos designata. Esse é o campo da semântica.No passo abstrativo seguinte removemos os designata e o que nos resta então são as expressões lingüísticas e as relações internas entre elas. Esse é o campo da sintaxe, que pode incluir a gramática das linguas naturais. Com a exclusão da gramática temos a sintaxe lógica. Cada uma das dimensões pode ser subdividida em ‘pura’ (ou ‘formal’), ‘empírica’ (ou descritiva). Carnap apresenta em primeiro lugar a pragmática e então diz: vamos abstrair o usuário e nos concentrar apenas nas expressões e seus significados; teremos assim o campo da semântica. Se fazemos abstração dos significados, teremos a sintaxe, como estudo das relações entre as expressões. Assim a sintaxe deve ser autônoma em relação às outras duas disciplinas; a semântica deve ser autônoma em relação à pragmática. E a pragmática, por sua vez ? Como diz Carnap, não faz diferença alguma a inclusão ou exclusão do significado das expressões no caso da pragmática. O que isso quer dizer ? No entender de Marcelo Dascal, “esta assimetria da posição da pragmática, se comparada a da semântica e a da sintaxe, tem conseqüências decisivas para o desenvolvimento do debate em torno da necessidade de se incluir um componente pragmático na teoria da linguagem. A consequência mais importante é que muitos defensores da pragmática, que implícita ou explicitamente se colocam dentro do quadro carnapiano, conceberão a sua defesa como sendo essencialmente um ataque à semântica. Sua estratégia consistirá em demonstrar a necessidade da pragmática através da demonstração da não autonomia da semântica em relação à ela.” Essa observação de Marcelo Dascal está endereçada aos estudos da lingüística mas pode ser ampliada para a filosofia da linguagem. Basta lembrar que ao apresentar essa divisão da semiótica Carnap esclarece que a pragmática será sempre uma investigação empírica, pois diz respeito ao que acontece com os falantes de uma dada língua. É sobre esta situação inicial da pragmática que se pratica a abstração que possibilitará a elaboração de uma semântica e de uma sintaxe, tanto empírica (no caso do estudo de uma língua ordinária) quanto pura ( no sentido lógico, de linguagens simbólicas artificiais, formais). Carnap não contempla a possibilidade de uma pragmática pura ou lógica pois isso lhe parece um contra-senso. O livro Fundamentos da Teoria dos Signos foi publicado em 1938, como segundo número do volume 1 da International Enclyclopedia of Unified Science, pela University of Chicago Press. Diz Morris na introdução: “O significado da semiótica como uma ciência reside no fato que ela é um passo na unificação da ciência, já que ela provê as fundações para qualquer ciência especial dos signos, tais como a lingüística, lógica, matemática, retórica e (em alguma medida ao menos) estética.” (Writings, p. 17)

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