terça-feira, 10 de março de 2009

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História da Educação dos Surdos


2.1 No Mundo Ocidental:


Antigamente na Idade Média, os surdos eram rejeitados pela sociedade, tratavam com rejeição, o eliminavam da sociedade (matavam), ou o isolavam, e até o escolhiam como “Guardadores Silenciosos”, não existe conhecimento de esforços por sua educação, é claro que a educação formal era um privilégio de poucos. Moores (pág. 69, 1978) tinha a seguinte opinião:

Durante a Antigüidade e por quase toda a Idade Média, pensava-se que os surdos não fossem educáveis, ou que fossem imbecis. Aos poucos textos encontrados referem-se prioritariamente a relatos de curas milagrosas ou inexplicáveis.

Os primeiros educadores de surdos surgiram no século XVI, em geral a educação não era comum nem para a elite, muito menos para o povo, os lugares de cultura era os conventos e os mosteiros, onde acontecia a educação formal dos filhos da nobreza. Os surdos que podiam se beneficiar do trabalho desses professores eram poucos, só aqueles pertencentes às famílias de poses. Pensava-se que houvesse um grande número de surdos agrupados, que poderiam ter desenvolvido algum tipo de linguagem de sinais do qual se comunicassem.
A partir desse período podem ser distinguidas, nas propostas educacionais vigentes, iniciativas antecedentes do que hoje chamamos de “oralismo” e outras antecedentes do que chamamos de “gestualismo”.
Com a tentativa de dar aos filhos da nobreza o domínio da língua falada, registra a história que Pedro Ponce de Leon (séc. XVI), monge beneditino espanhol, começou com a leitura e a escrita, passando depois para o treino da fala, utilizando, também o alfabeto digital.

Abade Charles M. De L’Epée foi o primeiro educador de surdo e criou uma escola pública para surdos, chamava-se “A Escola de Surdos de Paris”, ela foi um marco no esforço de educação dos surdos, Abade de L’Epée em contato com as classes populares surdas de Paris, reconheceu o valor da comunicação gestual – da Língua de Sinais, logo após criou um sistema de gestos para complementa-la, chamava-se “gestos metódicos”, que correspondiam às categorias gramaticais, sintáticas e morfológicas da língua francesa. Na Escola de Surdos de Paris existiam mais professores surdos que ouvintes, logo depois o “Método Francês”, foi ser conhecido como gestual em oposição ao oralismo puro. A proposta educativa defendia que os educadores deveriam aprender tais sinais para se comunicar com os outros; eles aprendiam com os surdos e, através dessa forma de comunicação, ensinavam a língua falada e escrita do grupo majoritário.
Esse modelo de Escola de Surdos de Paris se espalhou pela França, Europa e às Américas. O professore surdo Laurent Clerc e Thomas Gallaudet, fundaram no EUA na segunda década do século XIX, em Hartgod, o Asilo Americano para surdos, a partir daí o sucesso foi imediato, onde quer que houvesse uma boa quantidade de surdos. Outros renomados pedagogos oralistas desenvolviam outro modo de trabalhar com os surdos, por exemplo: Pereira, em Portugal, e Heinicke, na Alemanha, Heinicke é considerado o fundador do oralismo e de uma metodologia que ficou conhecida como o “método alemão”. Ele pensava que o pensamento só é possível através da língua oral, e depende dela, e a língua escrita teria uma importância secundária, devendo seguir a língua oral e não precede-la.
Em 1880, foi realizado o Congresso Internacional, em Milão, a partir daí aconteceu uma mudança completa nos rumos da educação de surdos. Esse congresso foi preparado por uma maioria oralista com o firme propósito de dar força de lei às suas proposições no que dizia respeito à surdez e à educação de surdos. Assim, a partir do congresso de Milão, no mundo todo, o oralismo foi referencial assumido e as práticas educacionais vinculadas a ele, foram amplamente desenvolvidas e divulgadas. Não sendo questionada por quase um século, os resultados de décadas de trabalho nessa linha, não mostraram grandes sucessos. Em maior parte dos surdos profundos não se desenvolveu a fala socialmente satisfatória e, em geral se desenvolvia parcialmente e tardia em relação à aquisição da fala apresentada pelos ouvintes, causando um atraso de desenvolvimento global significativo.
No início dos anos 50, foram desenvolvidas novas técnicas para que a escola pudesse trabalhar sobre os aspectos da percepção auditiva e de leitura labial da linguagem falada, surgindo assim um grande número de métodos, com a esperança que com o uso de próteses, se pudessem educar crianças com surdez grave e profunda a ouvir, e conseqüentemente, a falar. Para Trenche:

Para os oralistas, a linguagem falada é prioritária como forma de comunicação dos surdos e a aprendizagem da linguagem oral é preconizada como indispensável para o desenvolvimento integral das crianças. De forma geral sinais e alfabeto digitais são proibidos, embora alguns aceitem o uso de gestos naturais, e recomenda-se que a recepção da linguagem seja feita pela via auditiva (devidamente treinada) e pela leitura oralfacial. (1995, pg. 74)

Os estados Unidos fazem críticas aos métodos orais, pois apresentam limites mesmo com o incremento do uso de próteses.
Na década de 1960, surgiram os primeiros estudos sobre as línguas de sinais utilizadas pelas comunidades Surdas. Mesmo proibida pelos oralistas no uso de gestos e sinais, era raro encontrar uma escola ou instituição para surdos que não tivesse desenvolvido, às margens do sistema, um modo próprio de comunicação através dos sinais.
Com o descontentamento com o oralismo e as pesquisas sobre línguas de sinais, deram origem as novas propostas pedagógico-educacionais em relação à educação da pessoa Surda. Nos anos 70 surgiu a chamada comunicação total, o bimodalismo e o bilingüismo.
É possível constatar que, de alguma maneira as três principais abordagens da educação de surdos (oralista, comunicação total: bilingüismo e bimodalismo), existem com adeptos de todas elas nos diferentes paises, com seus prós e contras, essas abordagens abrem espaço para reflexões na busca de um caminho educacional que favoreça o desenvolvimento pleno dos sujeitos Surdos, e contribua para que sejam cidadãos em nossa sociedade.



2.2 No Brasil


Na época do Império, o principal personagem da história dos surdos não foi um brasileiro e sim um francês. Eduard Huet nasceu em 1822 e aos 12 anos ficou surdo, tinha família que pertencia à nobreza da França, se formou professor e emigrou para o Brasil em 1855.
Em 26 de setembro de 1857, com o apoio de D. Pedro II, fundou o Imperial Instituto de Surdos-mudos, hoje chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ele começou alfabetizando sete crianças com o mesmo método do Abade L’Epée. Essa foi a primeira Escola a aplicar a língua de sinais na metodologia de ensino. Depois apareceram as demais escolas, seguindo essa linha, a maioria dos surdos, estudaram (estudam) nas escolas ditas especiais em classes especiais. Atualmente, há a tendência da escola inclusiva, existe defensores e críticos dessa tendência, uma escola puramente oralista. Nessas escolas como também nas poucas para surdos, apareciam, ondas da mesma comunicação total, que chegaram a ser tentadas.
No auge da quimera oralista, uma parte das crianças, houve a tentativa de educa-las em escolas regulares, em classes regulares. Esse é certamente um Direito.
Houve uma experiência gaúcha atual, que o Prof° Carlos Skliar acha que deve fazer referência, ela adota a comunicação total.
Em Pernambuco, o Instituto Domingos Sávio, já com história, ligavam-se a Igrejas Evangélicas como a Concórdia, a escola SUVAG de Pernambuco.
Faz parte da história também dos Surdos Liliane Vieira Longman, que muito se esforçou e esforça para mudar e atualizar a educação de surdos, sempre trabalhando pela causa dos surdos, em que acha a classificação uma pedagogia da discriminação onde menciona:

A conseqüência da classificação é a exclusão, porque toda classificação vem carregada de valor positivo e negativo. Porque classificar, significa incluir os seres humanos em conjuntos uniformes, e para tanto é preciso generalizar-se traços, comportamentos, predicados, logo, significa não toma-los como singulares ou substantivos. (março 2004)

A história brasileira da educação do Surdo se constitui basicamente de quatro fases: o Oralismo, a Comunicação Total, o Bimodalismo e o Bilingüismo.

a) Oralismo – Preocupa-se com o ensino da língua oral através de vários métodos, tais como: verbo tonal, leitura labial e outros. Aqui no Brasil, as pessoas que seguem a corrente oralista só ensinam a língua portuguesa e geralmente não aceitam a Língua Brasileira de Sinais, trazendo grandes prejuízos à Comunidade Surda.
b) Comunicação Total – Procura desenvolver todas as habilidades da comunicação: a fala, a audição, os sinais, leitura, escrita e outros recursos. Os usuários da comunicação total utilizam o bimodalismo.
c) Bimodalismo – É a utilização simultânea das duas modalidades de língua: a oral – auditiva e a gestual – visual. Na maioria dos casos ocorre uma grande dificuldade no aprendizado de ambas as línguas, deformando-as.
d) Bilingüismo – A prática de utilizar duas línguas de forma alternativa. Na educação, é a proposta mais adequada e utilizada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança surda duas língua, no contexto escolar, considerando a língua de sinais como a língua natural, partindo desse pressuposto para o ensino da língua escrita.

O Surdo que utiliza a língua de sinais e a língua portuguesa pode se considerar bilíngüe. Para atender o Surdo em todo o seu desenvolvimento, é necessário definir estratégias de acesso das crianças Surdas ao bilingüismo propondo criação de um modelo de um núcleo de ensino, cuja arquitetura didático-pedagógica deve ser concebida levando em conta múltiplos fatores: a participação da comunidade Surda no ambiente da igreja; o conhecimento dos ouvintes da língua de sinais, respeitando sua autonomia; a formação de professores e monitores surdos; a elaboração de programas curriculares adequados que buscam o direito do Surdo de ser ensinado em sua primeira língua, de forma espontânea; a representação social da surdez na comunidade em geral; a participação da família no aprendizado da língua de sinais como um instrutor surdo criando um ambiente lingüístico favorável.
Lorena Koslowsk, menciona o bilingüismo no campo da educação dos Surdos como a existência de duas línguas, no ambiente do Surdo, reconhecendo que os Surdos vivem atualmente uma situação bilíngüe, e também que possuem uma cultura própria, que de ser reconhecida e respeitada, por isso qualquer programa bilíngüe deve ser um componente desta cultura.
Os Surdos brasileiros buscam outras alternativas de se comunicarem através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), organizaram-se em forma de associações para viverem ai sua cultura, essas associações são lugares onde há uma rica convivência de Surdos, troca de experiência, lazer, esporte e, principalmente, o fortalecimento da identidade dos Surdos.
O principal objetivo da educação bilíngüe é que a criança Surda tenha um desenvolvimento cognitivo-lingüistico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver com os ouvintes uma relação harmoniosa, tendo acesso às duas línguas, a língua majoritária e a de Sinais.
A criação das associações foi, sem dúvida, um passo decisivo para a autonomia dos Surdos. Com o passar do tempo, sentiu-se a necessidade de fundar uma organização nacional que atendesse a todas as pessoas Surdas do país. Como resultado da reunião de várias entidades que já trabalhavam com essa temática, em 1977 fundou-se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos – FENEIDA. Entretanto a representatividade dos Surdos estava comprometida, pois a nova entidade era composta apenas por ouvintes.
Como respostas à exclusão, em 1983 a comunidade Surda criou uma Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, um grupo não oficializado, mas com um trabalho significativo na busca de participação nas decisões da diretoria. Até então esse direito lhes era negado por não se acreditar na capacidade de coordenação de uma entidade. Devendo à grande credibilidade adquirida, a Comissão conquistou a presidência da FENEIDA. Em 16 de maio de 1987, em Assembléia Geral, a nova diretoria reestruturou o estatuto da instituição, que passou a se chamar Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS. Hoje com 15 anos de existência, a FENEIS se orgulha do trabalho que vem realizando com esforços a consciência de que a audácia e a coragem fazem parte do dia-a-dia. Como menciona FURTER:

As pessoas deficientes de experiência ou habilidade lingüística não são permanentemente ou de um modo geral retardadas na habilidade intelectual, mas estão temporariamente atrasadas em seu desenvolvimento pela falta de experiência geral. (1984:34)

É uma entidade filantrópica, de cunho civil e sem fins lucrativos, a FENEIS trabalha para representar as pessoas Surdas, com caráter educacional, assistencial e sociocultural. Uma das suas principais bandeiras é o reconhecimento da Cultura Surda perante a sociedade. São atendidos pela FENEIS além de Surdos, familiares, instituições, organizações governamentais e não governamentais, professores, fonoaudiólogos e profissionais da área. Essa entidade representa os Surdos em organizações mundiais como a ONU, UNESCO, OEA, OIT, sempre trabalhando no sentido de garantir os direitos culturais, sociais e lingüísticos da Comunidade Surda Mundial.

Um comentário:

Prof. Beth disse...

Excelente o material sobre educação de surdos.
Parabéns!

Abraços
Beth - bethquimica@yahoo.com.br